Querido Théo,

Por muito tempo não te escrevi.

Não sei se por falta de criatividade ou por medo de te encontrar em alguém, na rua. Seu rosto começou a ficar claro demais pra mim. E talvez justamente disso eu tenha medo.

Cora repousa triste, em minhas folhas de papel. Também faz tempo que não dedico algumas palavras a ela.

Não sei se por falta de criatividade ou por medo de encontrá-la em mim, no espelho. Talvez seu rosto tenha começado a ficar claro demais pra mim. E talvez justamente disso eu tenha medo.

De ser Cora.

De ser Cora sem Théo. Sem o cheiro de eucalipto me embriagando no fim da tarde da fazenda, sem os cochichos na cozinha, os balanços na rede e aquela noite chuvosa em que nos refugiamos no chalé abandonado. Sem o baile de máscaras no celeiro, os passeios a cavalo e o dia em que quase te perdi.

Théo.

Seu nome soa familiar como a melodia que me despertou para essa carta.

Querido Théo.

Já te conheço e, no entanto, não sei quem você é.

Eu te amo.
Apareça.